sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

AMIZADE, AMOR E CUMPLICIDADE

"Porque é que às vezes partilhamos impressões, medos e desabafos com os nossos melhores amigos que não conseguimos partilhar com a nossa cara-metade? Não é só porque temos medo de magoar ou de desiludir quem amamos; também é porque ainda não temos intimidade suficiente que nos permita faze-lo.
Acredito que a cumplicidade pode ser quase automática: conhecemos uma pessoa e intuímos muito depressa se nos sentimos confortáveis na sua companhia, se nos vamos entender, se o outro vai perceber as nossas piadas. Por isso Vinicius de Moraes diz que os amigos não se fazem, reconhecem-se.

O entendimento que criamos com os outros envolve pressupostos que incluem o mesmo tipo de inteligência, interesses parecidos e valores comuns, ou seja, mais ou menos a mesma forma de encarar a vida e os problemas que ela nos pode trazer. O bom entendimento também passa por ter atenção pelo outro; perceber o que é importante para ele, ouvir as suas histórias, ajuda-lo a afugentar os seus fantasmas, a arrumar ideias e a fazer escolhas. E em tudo isto não faço distinção entre amor e amizade porque no que respeita ao entendimento, este faz tanta falta a um como à outra. Não existem verdadeiras amizades sem cumplicidade, da mesma forma que o amor verdadeiro não existe sem entendimento. E aqueles que pensam que pensam que têm uma história de amor com um amigo com quem por acaso já dormiram numa noite de copos, não sabem o que é amor, porque o amor é uma partilha continuada no tempo e comprometida no coração, muito para lá de uma troca de fluídos inconsequente.
Diz Lawrence Durrel que o ciúme por uma criação imaginária confina com o ridículo. Mas voltemos ao entendimento e à cumplicidade: eu acredito que um dos segredos mais importantes numa relação amorosa é ver no outro o nosso melhor amigo. É no outro que eu confio acima de tudo, é com ele que partilho o meu receios mais profundos, as minhas convicções mãos sérias e as minhas vontades mais frívolas. O problema é que a partilha daquilo que somos e que sentimos, a capacidade de despir a nossa alma é muito mais difícil do que despir o nosso corpo e tirar prazer dele.

A intimidade também se vive debaixo da pele e para que tal aconteça são necessários anos de convivência. Por vezes o nosso amor pelo outro é tão forte e tão temerário que julgamos chegar a esse lugar ao fim de alguns meses de relação. É verdade que vamos a caminho, mas até lá chegar espera-nos uma viagem mais longa do que imaginámos percorrer. E é durante esta viagem que se lançam as bases certas ou erradas para a construção de uma intimidade saudável.

No verão passado o psiquiatra José Gameiro publicou numa revista semanal um artigo sobre as novas formas de relacionamento entre casais no qual dizia que hoje as relações são como queijos émental, ou seja, com buracos; correntes de ar, zonas que escapam ao outro. A internet é a grande fábrica universal de relações do tipo émental com o Facebook, os chats e os sites que cada um visita sem dizer ao outro. Na mesma semana publiquei um post que dizia: a vida era muito mais fácil quando apple (maçãs) e blackberry (amoras) eram apenas frutos.

A união numa relação amorosa é fundamental. Cada um tem de conseguir partilhar com o outro o que sente. Não precisa de lhe fazer um relatório exaustivo dos seus dias, mas não deve reservar aquilo que lhe é mais importante e mais querido. A união faz a força, o amor constrói-se das duas. E o nosso amor deve ser o nosso melhor amigo para lançar as bases de uma intimidade verdadeira, séria, à prova de todas as balas e de todos os queijos émental."
 Ok é real... a Margarida Rebelo Pinto participa nas nossas conversas... só pode mesmo... 
M.O. 

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